4 de dezembro de 1926 Caro Born, Você há de ter um pouco de paciência. Meu genro vai ler a peça e escrever-lhe-á. Mas o pobre homem tem que poupar esforços e seu coração está debilitado. Tornei a lembrá-lo para dar uma opinião sobre a peça logo que possível. Gostei imensamente do começo da peça e creio que seu impacto sobre ela não será menor.A mecânica quântica vem por certo se impondo. Mas uma voz interior me diz que não se trata ainda da coisa real. A teoria diz muito, mas realmente não nos aproxima em nada do segredo da "antiga". De qualquer modo, estou convencido de que ELE não está jogando dados. Ondas no espaço tridimensional, cuja velocidade é regulada por energia potencial (por exemplo, fitas elásticas)... Tenho trabalhado muito na dedução das equações de movimento de pontos materiais considerados singularidades, dada a equação diferencial da relatividade geral. Com os melhores votos, seu A. Einstein. Nota de Born: Heidi enviou sua peça A child of America (Uma criança da América) para Einstein, pedindo-lhe sua opinião. O genro de Einstein, Rudolf Kayser, que se casou com sua enteada mais velha, Ilse, era então um conhecido e respeitado autor e crítico. O veredito de Eistein sobre a mecânica Quântica foi um rude golpe para mim: ele a rejeitou sem nenhuma razão definida, apenas referindo-se a uma "voz interior". Essa rejeição ocupa um lugar importante em cartas subsequentes. Ela foi fundamentada numa diferença de atitude filosófica básica que afastava Einstein da geração à qual eu sentia pertencer, embora tivesse apenas alguns anos menos que ele. Fonte: Humanidades - Vol 1 - nº1 - pag 118